quinta-feira, 25 de junho de 2009

Os Tudors: um século de poder




Os Tudor conseguiram dar fim a uma guerra civil, criaram uma nova religião e colocaram a Inglaterra no caminho para se tornar uma potência. Isso tudo em apenas 100 anos.

Por Vinícius Rodrigues




Elizabeth I

Aos 69 anos, Elizabeth I estava cansada, velha demais para os padrões da época e solitária. A "rainha virgem" passou seus últimos meses de vida na cama, recusando qualquer atendimento médico. No leito, a monarca recebeu a visita do arcebispo John Whigtift. Ele tomou suas mãos e lhe falou sobre o paraíso. Elizabeth respondeu retribuindo o aperto de mãos, contente pelo que ia encontrar nos céus. Morreu nas últimas horas de 24 de março de 1603, no palácio de Richmond, no condado de Surrey. "Foi com tristeza que a notícia da morte percorreu Londres na manhã seguinte. A rainha governara o reino por quase 45 anos e não havia deixado descendentes diretos", diz Heather Thomas, historiadora galesa especializada na história de Elizabeth I. Com o fim do reinado, a dinastia Tudor, após 118 anos, chegava ao fim. Os Tudor assumiram a coroa inglesa em 1485. Henrique VII deu início à linhagem que teve como sucessores Henrique VIII, Eduardo VI, Mary I e Elizabeth I. Durante a dinastia, houve o rompimento com a Igreja Católica e a fundação da Igreja Anglicana e a Inglaterra atingiu alto nível de desenvolvimento político, econômico e cultural. “É sob os Tudor que se tem o período mais florescente da expansão e consolidação do poderio britânico, na política européia, no comércio e nas finanças, na expansão ultramarina e na independência religiosa”, afirma Estevão Martins, professor de História na Universidade de Brasília.
MANOBRAS PELO TRONO




Henrique Tudor

Henrique Tudor nasceu em 1457 no País de Gales, filho de Edmund Tudor, o conde de Richmond, e Margarida Beaufort, trineta de Eduardo III, rei da Inglaterra entre 1327 e 1377. Embora tivesse direito ao trono, Henrique não pertencia à linha de sucessão direta. Por 30 anos, até então, o poder se alternava entre os Lancaster e os York. Mas, em 1455, quando Ricardo, duque de York e aspirante ao trono, prendeu Henrique VI, rei da Inglaterra e da família rival, deflagrou-se a Guerra das Duas Rosas (a flor era símbolo das duas casas reais). Em 1471, quando Eduardo IV de York subiu ao trono, Henrique Tudor fugiu das famílias em disputa, para a Bretanha.


Papa Inocêncio VIII


Em 1483, com a morte de Eduardo IV, a história mudou. O herdeiro direto seria seu filho Eduardo V, então com 12 anos. Mas seu tio, Ricardo de York, duque de Gloucester, usurpou o trono e acabou coroado Ricardo III. Com a manobra, a família Lancaster passou a apoiar as intenções de Henrique Tudor de virar rei. E, em 1485, Henrique marchou para a Inglaterra. Na batalha de Bosworth Field, matou Ricardo II e se proclamou rei Henrique VII. Para pacificar as famílias, casou-se com Elizabeth de York. E convenceu o papa Inocêncio VIII a criar a Bula da Excomunhão, para punir os que tentassem tomar o trono.

Catarina de Aragão


Do casamento do rei com Elizabeth de York nasceram Arthur, Henrique, Margaret e Mary. Para estreitar laços com os países vizinhos, o monarca casou Margaret com James IV da Escócia e Mary com Luís XII da França. O primogênito, Arthur, ele uniu à princesa espanhola Catarina de Aragão. A cerimônia ocorreu em 1501, quando os noivos tinham 15 e 16 anos. Em 1502, o príncipe morreu de malária e a viúva de Arthur foi obrigada a ficar na corte. O rei não havia recebido parte do dote da princesa e, por isso, não dera a ela todas as rendas previstas no contrato nupcial. Assim, os pais de Catarina não lhe permitiram voltar à Espanha.


TUDO POR UM TUDOR



Henrique VIII


Henrique VII morreu em abril de 1509, aos 59 anos. Sucedeu-o Henrique VIII, nascido em 1491. Com 17 anos, em 1509, casou-se com Catarina de Aragão. No mesmo dia, os noivos foram coroados, na Abadia de Westminster, rei e rainha da Inglaterra. Henrique era culto, atlético e falava vários idiomas. Aumentou a frota de cinco para 53 navios. Mas não era pacífico. Seu reinado foi o que teve mais execuções na história da Inglaterra: 330 mortes, entre 1532 e 1540.



Ana Bolena



O rei não conseguiu um herdeiro com Catarina de Aragão. Apenas uma filha vingou, a futura rainha Mary. Entregar a coroa a uma mulher poderia fragilizar o trono e, por isso, Henrique VIII precisava de um herdeiro homem. Nesse meio-tempo, apaixonou-se por Ana Bolena, dama de honra da rainha. “Seu magnetismo sexual e a forma como ela cativou aqueles ao seu redor é bem documentada.




Clemente VII



Foi essa ‘diferença’, bem como sua sagacidade, inteligência e efervescência, que atraíram o rei”, escreveu Richard Bevan, jornalista que trabalha em um roteiro sobre Ana. Henrique quis convencer o papa a anular seu casamento, sob o argumento de que ele era ilegal, por Catarina ter sido mulher de seu irmão. Clemente VII recusou-se, mas, mesmo assim, em 1533, o rei se casou com Ana Bolena. A anulação do casamento com Catarina seria anunciada um mês depois. O papa excomungou o rei, que respondeu rompendo com a Igreja Católica. Criou a Igreja Anglicana, que não obedece a Roma, é chefiada pelo rei e permite o divórcio. A decisão tornou-se oficial em 1534, no Decreto de Supremacia (Act of Supremacy).



Jane Seymour


"A separação da Inglaterra da Igreja Católica foi subproduto da obsessão por um herdeiro", diz Heather Thomas. Acontece que Ana também teve uma filha mulher, Elizabeth. O rei envolveu-se então com outra dama da corte, Jane Seymour. Para se livrar da segunda esposa, acusou-a de bruxaria e traição."Eram 8 horas da manhã de 19 de maio de 1536. Vestida com roupão preto coberto por um manto branco, Ana Bolena encaminhou-se para a execução. Não negou as acusações e elogiou seu marido, dizendo que o amava. Foi vendada e esperou poucos segundos até o carrasco lhe cortar o delicado pescoço", afirma Bevan.



Eduardo VI

Em 1537, finalmente, nasceu o varão de Henrique, Eduardo. A mãe, Jane, morreu 12 dias depois, por problemas no parto. O rei ainda casou outras três vezes, até morrer em 1547. Considerado o primeiro rei anglicano da Inglaterra, Eduardo VI foi coroado aos 9 anos e governou com um Conselho de Regência. Com ele, a religião ganhou força: em 1549, foi introduzido no país o Livro de Oração Comum (de preces anglicanas), em inglês, língua que se tornou oficial.


BLOODY MARY




Em seu leito de morte, o rei foi influenciado por um de seus tutores, John Dudley, a escolher como sucessora Jane Gray, casada com seu filho Guilford Dudley. Perto de fazer 17 anos, o rei morreu de tuberculose e Jane Gray assumiu em seu lugar. A população, no entanto, não aprovou a rainha e exigiu Mary I no trono. Assim, após nove dias, a primeira filha de Henrique VIII assumiu o poder.




Mary I e Filipe II


Sua primeira ação foi revalidar o casamento de Henrique VIII com sua mãe, Catarina de Aragão. Filha de uma católica, restaurou o catolicismo e o crime de heresia: opositores seriam mortos, por traição à Santa Sé. Cerca de 300 anglicanos foram queimados como hereges em três anos. Foi chamada de Queen Bloody Mary (Rainha Sanguinária), nome que anos depois batizou um drinque de suco de tomate e vodca. Para piorar sua imagem, casou-se com Filipe II da Espanha. Isso revoltou o povo: significava ameaça à independência e risco de subordinação. Quando ela e o marido formaram uma aliança para lutar contra a França, o descontentamento aumentou, principalmente porque os franceses conquistaram Calais, última possessão britânica na França. Sem filhos, Mary deixou o trono para sua meia-irmã Elizabeth I, em 1558, ao morrer do que dizem ter sido um tumor.



Elizabeth I - "A Rainha Virgem"


Em novembro daquele ano, começava um dos governos mais populares e importantes da monarquia britânica: o de Elizabeth, filha de Henrique VIII e Ana Bolena. "Seu reinado é apontado como a Idade do Ouro da história inglesa. Ela se tornou uma lenda em seu próprio tempo de vida, famosa por suas notáveis habilidades e realizações", diz Heather Thomas. A rainha era astuta. Nomeou ministros de confiança para apoiá-la, e as questões mais críticas levou ao debate no Parlamento. Também restaurou a religião anglicana.

















Armada espanhola / Jaime I






Tudo ia bem, até a rainha se desentender com Filipe II, seu cunhado. A Espanha era a maior potência da época e Filipe sonhava ser monarca britânico. Católico, pretendia restaurar sua fé na Inglaterra. Quando navios espanhóis foram saqueados por piratas ingleses, prática incentivada pela rainha, Filipe, em 1588, enviou uma frota de 130 navios para tomar o reino. Elizabeth I, então, discursou à tropa: "Sei que tenho o corpo de uma mulher fraca e frágil, mas tenho também o coração e o estômago de um rei " e de um rei da Inglaterra!" Resultado: venceu a Armada espanhola. Em 1600, criou a Companhia das Índias Ocidentais e iniciou a expansão marítima. "Quando ela subiu ao trono, em 1558, a Inglaterra era um país empobrecido, dilacerado por questões religiosas. Quando morreu, era um dos mais poderosos países do mundo", afirma Heather Thomas. Elizabeth não se casou. Foi assim que ganhou o apelido de "rainha virgem". Após sua morte, em 1603, de acordo com o testamento de Henrique VIII, assumiu o descendente de Mary, irmã mais nova de Elizabeth. Jaime VI, rei da Escócia, tornou-se Jaime I da Inglaterra, iniciando a era dos Stuart.


Fonte: Aventuras na História
Autor: Vinícius Rodrigues
Imagens: Internet

2 comentários:

Anônimo disse...

Oi Lígia; o que mais me chama a atenção, talvez pela "popularidade" seja a menção a Henrique VIII declamado na obra de Shakespeare. Sendo que foi exatamente no reinado de Elizabete I, filha de Henrique VIII, que se dá a sua consagração. Um post não somente "histórico-literário" mas muito bom, gostei mesmo.

Abraços
Marco

Unknown disse...

OI Ligia,

A foto relacionada com Rainha Ana Bolena na verdade é a pintura da Rainha Anna Cleves.