domingo, 9 de dezembro de 2012

Ouro sobre futebol

Ronaldo Correia de Brito


Nunca estudei a matéria porque nunca gostei de futebol. Isso mesmo, confessado e assumido

Preciso escrever um conto para uma antologia, que será publicada por um editor alemão, e lançada na Feira de Frankfurt. Todo mundo está cansado de saber que o Brasil será o país homenageado em 2013 e o mundo literário brasileiro vive o maior agito. Nada mal receber a encomenda de uma narrativa curta, vivo dizendo que nós escritores não diferimos dos marceneiros, também trabalhamos por empreitada. O único trauma é que as antologias possuem temas. Adivinhem sobre o que terei de escrever? Acertaram: futebol.

Frankfurt
Para qualquer brasileiro, principalmente os torcedores do Corinthians, isso seria o mesmo que sortear o único assunto estudado numa prova final. No meu caso, o raciocínio se faz ao contrário: nunca estudei a matéria porque nunca gostei de futebol. Isso mesmo, confessado e assumido. Nem pela seleção brasileira eu torço. Não me finjo de fanático como muitos intelectuais brasileiros costumam fazer, apenas para jogar com a galera.


Quando escrevo minhas crônicas sobre futebol, os leitores me espinafram. Certa vez protestei contra os altos prêmios concedidos aos jogadores, maiores que as premiações do Nobel. Achava injusto, imerecido, porque fazer um gol está numa ordem de grandeza inferior a uma descoberta científica ou à escrita de um livro como A Montanha Mágica. Fui crucificado, sem direito à ressurreição. Os leitores protestaram, recebi quase mil mensagens. Para eles, os jogadores provocam alegrias e emoções bem superiores aos romances de Thomas Mann ou à descoberta da penicilina.





Confessar a dificuldade não diminui minha angústia. Terei de escrever sobre futebol. Mas eu não gosto de futebol, já disse e torno a dizer. No máximo, me interesso pelos escândalos envolvendo jogadores. Como o de Ronaldo Fenômeno e os travestis no motel. Pena que abafaram o caso, por interesse dos patrocinadores e das marcas famosas. Não ficaria bem misturar travecos com chuteiras, embora os coitados vivam pisados. Perdi os detalhes escabrosos, sobrou pouca informação para o meu conto. Afinal, houve ou não houve...? Os americanos se revelaram bem mais liberais no caso Bill Clinton. Fiquei sabendo onde entrou e por onde saiu o charuto. E olhe que se trata de uma sociedade puritana!


Bill Clinton e Monica Lewinsky
Alguém pode me dizer se Edmundo Animal foi preso depois de dirigir bêbado e provocar atropelamento com mortes? E Adriano Imperador – não de Roma, mas das favelas do Rio –, é ou não envolvido com o tráfico? E o goleiro Bruno, do Flamengo, com seu julgamento adiado? Será que vão convocá-lo para 2014? E o outro Ronaldo, o Gaucho? Realmente, que rapazes animados! Quanta alegria e bom exemplo eles dão aos brasileiros! O único que não acha graça em nada sou eu, porque sou um velho mal humorado, enxergo defeitos ao invés de virtudes e não morro pelas cores de nenhum time.




 Decidi contar a história de um jogador fracassado, um paciente do hospital onde trabalho. Depois de tentar a sorte nos piores times de Pernambuco e só dar azar, ele tornou-se alcoolista, um nome para não chamar a pessoa de ‘bêbado’. O herói do meu conto caiu de uma ribanceira e sofreu vários traumatismos. Não vai servir pra mais nada, muito menos jogar bola. Ele já estava encostado, mesmo! Ganhava a vida engolindo moedas na feira. De cinco, dez, vinte e cinco e cinquenta centavos. E no meio dessas pílulas menores, as moedas de um real.


Vocês precisam ouvir a aula de higiene do ex-jogador, narrando como lavou as vinte e oito moedas que havia engolido, depois de botá-las para fora. Como ele revirou as fezes com gravetos, até catar todos os metais. Bêbado, porém higiênico, evitou a cacimba que abastece as casas com água potável e o pequeno açude. Removeu os dejetos do seu pequeno tesouro com água poluída, condenada para uso. Depois de limpas e secas, contadas e recontadas, botou-as de volta no estômago.



Dessa vez, em forma de cachaça.



Ronaldo Correia de Brito - Nasceu em Saboeiro no Ceará e mora em Recife. É médico formado pela Universidade Federal de Pernambuco.
Desenvolveu pesquisas e escreveu diversos textos sobre literatura oral e brinquedos de tradição popular, além de ter sido escritor residente da Universidade da Califórnia, em Berkeley, no ano de 2007. Escreveu os livros de contos As Noites e os Dias (1997), editado pela Bagaço, Faca (2003), Livro dos Homens (2005), e a novela infanto-juvenil O Pavão Misterioso (2004), todos publicados pela Cosac Naify. Dramaturgo, é autor das peças Baile do Menino Deus, Bandeira de São João, Arlequim, e o romance Galiléia pela Alfaguara. Retratos Imorais - Alfaguara / Objetiva, Estive Lá Fora-Alfaguara / Objetiva. Escreveu durante sete anos para a coluna Entremez, da revista Continente Multicultural, e atualmente assina uma coluna semanal na revista Terra Magazine e coluna no Jornal O Povo (Ceará).

Fonte: Jornal O POVO (Ceará) Imagens: Internet / Acervo pessoal

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Cruz Vermelha  - História

Cruz Vermelha Internacional


A Cruz Vermelha é uma entidade internacional, com sede em vários países do globo, cuja missão é levar assistência a quem necessite, nas mais diversas condições: feridos, prisioneiros, refugiados, enfermos.

Na guerra ou na paz, a Cruz Vermelha tem como primeiro objetivo promover o bem-estar; por isto, suas atividades podem se estender ao campo da educação, da assistência social, da prevenção de doenças, do combate de epidemias, fome e muito mais.

Henri Dunant

Na esfera social, trabalha com minorias (idosos, deficientes físicos e mentais, por exemplo), doentes crônicos, dependendo da realidade de cada país em cada época.

O importante é que a Cruz Vermelha não age sob interesse de nenhum país, empresa ou organização. Seu interesse maior é a vida, sem discriminar etnia ou nacionalidade.

Sua data é comemorada no dia do nascimento de Henri Dunant, que primeiro concebeu a idéia da Cruz Vermelha e acompanhou sua criação. Dunant ganhou o primeiro Prêmio Nobel da Paz, em 1901, e morreu em 1910. O Comitê Internacional da Cruz Vermelha também recebeu um Prêmio Nobel da Paz em 1917 - o único durante a Primeira Guerra Mundial - e outro em 1944, pelo desempenho na Segunda Guerra. Quando do centenário da Fundação da Cruz Vermelha, em 1963, mais dois prêmios Nobel da Paz: um foi para o Comitê Internacional e outro para a Liga das Sociedades.

COMO SURGIU A CRUZ VERMELHA?




A idéia da Cruz Vermelha nasceu em 1859, mais de cinqüenta anos antes de sua efetiva criação e reconhecimento internacional.

Tudo começou quando Henri Dunant, um jovem suíço, se comoveu com o sofrimento no campo de batalha de Solferino, no Norte da Itália, onde os socorros militares não eram suficientes. A forte impressão causada pela dor das pessoas inspirou Henri Dunant a escrever um livro: "Recordações de Solferino", em que descrevia dramáticas cenas da guerra. A partir dali, Dunant já percebia a necessidade de uma entidade que pudesse ajudar pessoas naquele tipo de situação.

A diferença é que, no livro, ele não se limitou a relatar as desgraças da guerra. Mais do que isto, ele sugeria a criação de grupos nacionais de ajuda e apontava a necessidade de se pensar "um princípio internacional, convencional e sagrado", que inspiraria posteriormente a Convenção de Genebra.

Em 1863, também sob influência do livro, seis pessoas se reuniram - entre elas, Henri Dunant - para tomarem providências práticas em relação à situação exposta. Com a presença de representantes de 16 nações, o resultado foi a criação da Cruz Vermelha, a partir de quatro resoluções.

A primeira delas dizia respeito à criação de comitês de socorro, de âmbito nacional, para prover ajuda ao serviço de saúde dos exércitos. Em tempos de paz, seria responsável também pela formação de enfermeiras voluntárias. Também ficou decretada a neutralização de uma equipe de ambulâncias, hospitais militares e pessoal de saúde, a fim de fornecer ajuda sem distinção. Por fim, resolveu-se adotar a cruz vermelha como símbolo, aplicada sobre um fundo branco.

Um ano depois acontecia a primeira Convenção de Genebra, com proposições semelhantes, reunindo assinaturas de 55 países. Era o início da história do direito humanitário.

Nesta época, a Cruz Vermelha era dirigida por cidadãos suíços apenas. As Sociedades Nacionais eram compostas por membros diretamente treinados em primeiros socorros e emergência. Foi após a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) que cada Sociedade Nacional formou seu próprio grupo. Unidas, formaram a Liga das Sociedades Nacionais da Cruz Vermelha, hoje conhecida como Federação das Sociedades Nacionais da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho.

A preocupação com os direitos humanos levou à atitude contra a guerra e pela paz, principalmente depois da Primeira Guerra Mundial.

Em 1946, este objetivo foi reiterado durante uma Conferência Internacional da Cruz Vermelha, em que se colocou que "... a tarefa essencial da Liga e das Sociedades Nacionais da Cruz Vermelha consiste em um esforço cotidiano para manter a paz e em uma aglutinação de todas as forças e de todos os meios para impedir futuras guerras mundiais". É bom lembrar que isto foi dito em plena Segunda Guerra Mundial.

Dois anos depois, a Conferência Internacional já reunia 46 nações. O marco desta reunião foi a Declaração sobre a Paz.

A Cruz Vermelha Brasileira foi fundada em 1908, com sede no Rio de Janeiro, e tornou-se reconhecida pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha em 1912.

ESTRUTURAS E ATRIBUIÇÕES




Cruz Vermelha

Em sua estrutura internacional, a Cruz Vermelha é formada por um Comitê Internacional e uma Liga das Sociedades, que engloba as diversas Sociedades Nacionais e todas as Sociedades do Crescente Vermelho.

O Comitê Internacional da Cruz Vermelha tem 25 membros suíços e está ligado diretamente às Convenções de Genebra. É um importante órgão de divulgação dos direitos humanitários, com base nos princípios da Cruz Vermelha.

A atividade da Liga das Sociedades da Cruz Vermelha procura coordenar as sociedades-membro no contexto internacional e participar na orientação e no incentivo da criação de novos membros. Fornece apoio operacional em operações de socorro em tragédias internacionais.

Existe ainda a Conferência Internacional da Cruz Vermelha, a mais alta autoridade, convocada de quatro em quatro anos ou quando há alguma necessidade extraordinária. Uma Comissão Permanente coordena as atividades da Cruz Vermelha nos intervalos entre as Conferências Internacionais.


INFORMAÇÕES RÁPIDAS

Desde sua criação, em 1919, a Liga das Sociedades Nacionais da Cruz Vermelha já coordenou mais de 300 operações de socorro de emergência no mundo inteiro.

Na última década, foram lançados cerca de 150 apelos que resultaram em um valor de cerca de 500 milhões de francos-suíços (mais de 750 bilhões de reais).

Ao todo, são 171 Sociedades Nacionais em 171 países.

Para se ter uma idéia, em 1919 havia apenas uma Sociedade Nacional na África; em 1948 eram duas e em 1979 o salto foi enorme. Já eram 37 Sociedades Nacionais.

A Cruz Vermelha salvou pessoas em terremotos nos seguintes países: Guatemala, Itália, Peru, Nicarágua, Turquia e Romênia; inundações, tufões ou ciclones em Bangladesh, Filipinas, Honduras e Romênia; secas na África, Etiópia, Haiti e Somália;

Em 1953, o número de membros adultos era de cerca de 56 milhões.

Cruz Vermelha Brasileira

A História da Cruz Vermelha Brasileira se iniciou no ano de 1907, graças à ação do Dr. Joaquim de Oliveira Botelho, espírito culto e cheio de iniciativa que, inspirando-se naquilo que testemunhara em outros países, sentiu-se animado do desejo de ver, também aqui, fundada e funcionando, uma Sociedade da Cruz Vermelha. Junto com outros profissionais da área de saúde e pessoas da sociedade promoveu uma reunião em 17 de outubro daquele ano na Sociedade de Geografia do Rio de Janeiro, para lançamento as bases da organização da Cruz Vermelha Brasileira. Em reunião realizada em 5 de dezembro de 1908, foram discutidos e aprovados os Estatutos da Sociedade. Esta data ficou consagrada como a de fundação da Cruz Vermelha Brasileira, que teve como primeiro Presidente o Sanitarista Oswaldo Cruz. O registro e o reconhecimento da entidade nos âmbitos nacional e internacional se deu nos anos de 1910 e 1912, sendo que a I Grande Guerra (1914/1918) constitui-se, desde seus primórdios, no fator decisivo para o grande impulso que teria a novel Sociedade.




As “Damas da Cruz Vermelha Brasileira", comitê criado por um grupo de senhoras da sociedade carioca, deu origem à Seção Feminina, que teria como primeira tarefa, a formação do corpo de Enfermeiras voluntárias. A semente assim plantada frutificaria e, para permitir o funcionamento de outros cursos sugeridos pela Seção Feminina, foi criada e inaugurada, em março de 1916, a Escola Pratica de Enfermagem, sob a eficiente direção do Dr. Getúlio dos Santos, na época Capitão Medico do Exército. Com a declaração de guerra do Brasil aos Impérios Centrais (Alemanha e seus aliados), a Sociedade expandir-se-ia com intensificação dos Cursos de Enfermagem e com a criação de filiais estaduais e municipais, cabendo a São Paulo a primazia. Em 1919, as filiais já eram em número de 16.

A Cruz Vermelha Brasileira participou da constituição da Federação de Sociedade de Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho em 1919, filiando-se a ela.Em nosso país, tornou-se instituição modelar, da forma prevista nas Convenções de Genebra -, como em tempos de paz, levando ajuda a vítimas de catástrofes e desastres naturais (secas, enchentes, terremotos etc.).

Henri Dunant e Oswaldo Cruz

Atua com base nos princípios fundamentais da Cruz Vermelha, que são:

- Humanidade

- Imparcialidade

- Neutralidade

- Independência

- Voluntariado

- Unidade

- Universalidade

É reconhecida pelo governo brasileiro como sociedade de socorro voluntário, autônoma, auxiliar dos poderes públicos e, em particular, dos serviços militares de saúde, bem como única sociedade nacional da Cruz Vermelha autorizada a exercer suas atividades em todo o território brasileiro.

Missão

• Agir, em caso de guerra, e preparar-se, na paz, para atuar em todos os setores abrangidos pelas Convenções de Genebra e em favor de todas as vítimas de guerra, tanto civis como militares;

• Contribuir, para a melhoria de saúde, prevenção de doenças e o alívio do sofrimento através de programas de treinamento e de serviços que beneficiem a comunidade;adaptados às necessidades de peculiaridades nacionais e regionais, podendo também, para isso, criar e manter cursos regulares, profissionalizantes e de nível superior;

• Organizar, dentro do plano nacional, serviços de socorros em emergências às vítimas de calamidades, seja qual for a causa;

• Recrutar, treinar e aplicar o pessoal necessário às finalidades da instituição;

• Incentivar a participação de jovens voluntários nos trabalhos da Cruz Vermelha, qualificando-o às finalidades da instituição;

• Divulgar os princípios humanitários da Cruz Vermelha, a fim de desenvolver na população os ideais de paz, respeito mútuo e compreensão entre todos os homens e todos os povos.

Princípios Fundamentais












    
Humanidade: A Cruz Vermelha, nascida da preocupação de prestar socorro, indistintamente, aos feridos nos campos de batalha, esforça-se, no âmbito internacional e nacional, em evitar e aliviar o sofrimento humano sob qualquer circunstância. Procura não só proteger a vida e a saúde, como também fazer respeitar o ser humano. Promove a compreensão mútua, a amizade, a cooperação e a paz duradoura entre todos os povos.

Imparcialidade: A Cruz Vermelha não faz nenhuma discriminação de nacionalidade, raça, religião,condição social ou opinião política. Procura apenas minorar o sofrimento humano,dando prioridade aos casos mais urgentes de infortúnio.

Neutralidade: A fim de merecer a confiança de todos, a Cruz Vermelha abstém-se de tomar partido em hostilidades ou de participar, em qualquer tempo, de controvérsias de natureza política, racial, religiosa ou ideológica.

Independência: A Cruz Vermelha é independente. As Sociedades Nacionais, auxiliares dos poderes públicos em suas atividades humanitárias, sujeitas às leis que regem seus respectivos países, devem, no entanto, manter sua autonomia, a fim de poderem agir sempre de acordo com os Princípios Fundamentais da Cruz Vermelha.

Voluntariado: A Cruz Vermelha é uma instituição voluntária de socorros sem nenhuma finalidade lucrativa.

Unidade: Só pode existir uma única Sociedade de Cruz Vermelha em cada país. Ela está aberta a todos e exerce sua ação humanitária em todo o território do mesmo.

Universalidade: A Cruz Vermelha é uma instituição mundial, na qual todas as Sociedades têm iguais direitos e dividem iguais responsabilidades e deveres, ajudando-se mutuamente.

Em 1915, por motivos de saúde, abandonou a direção do Instituto Oswaldo Cruz e mudou-se para Petrópolis. Como prefeito daquela cidade traçou vasto plano de urbanização, que não pode ver executado.

Oswaldo Cruz morreu de insuficiência renal em 11 de fevereiro de 1917, em Petrópolis, com apenas 44 anos.

Desde então, em sua homenagem se comemora o Dia Nacional da Saúde na data de seu nascimento.

Cruz Vermelha

A participação da mulher paulista na Revolução de 1932 sempre foi motivo de orgulho para as gerações posteriores.

Unidas pela da bandeira da Cruz Vermelha, centenas de mulheres paulistas serviram nos hospitais dos campos de batalha e organizaram as operações de retaguarda.

Transcrevo um trecho do texto de Francisco Martins dos Santos sobre a Cruz Vermelha de Santos publicado neste link.

"A Cruz Vermelha de Santos, reunida no dia 12, solidarizara-se também com o movimento e mantinha-se em sessão permanente, por deliberação do seu Conselho, iniciando imediatamente a organização dos serviços de saúde, da Escola de Enfermeiros, de atenção às requisições, de socorro ao povo, e das comissões distribuidoras de auxílio. Foi notável a ação desta benemérita instituição durante todo o tempo, e a distribuição de gêneros alimentícios, remédios e roupas, que efetuou, atingiu a muitas centenas de contos de réis, equivalente hoje (N.E.: 1986) a muitos milhões de cruzeiros.
Montando cozinhas volantes pelos bairros da cidade, onde fornecia refeições aos que necessitavam, fornecendo marmitas a famílias inteiras, enviando comissões dinâmicas a percorrer os lares e verificar a necessidade de todos os visitados, principalmente nos bairros proletários, a Cruz Vermelha mobilizou centenas de senhoras, senhorinhas e cavalheiros, que, abnegadamente oferecendo seu trabalho, seu dinheiro, seus automóveis e a própria gasolina que gastavam, formaram um monumento imperecível de dedicação e altruísmo patriótico a esse organismo eminentemente assistencial e popular, que a cidade não poderá esquecer ou relegar a injusto olvido.

A seu presidente, Dr. Flor Horácio Cirilo, coube dirigir todo o extraordinário movimento da associação nos famosos oitenta dias, e tomar as múltiplas providências que o súbito desdobramento exigira de sua direção. Distinguir os seus colaboradores, entre centenas de abnegados que, dia e noite, não tinham outra preocupação que o bem e o conforto públicos em nome de São Paulo e de um Brasil livre, seria impossível e portanto injusto, porque, nominalmente, muitos ficariam esquecidos. Basta que à sociedade santista fique pertencendo sempre, globalmente, o merecimento dessa página brilhante que foi o espetáculo da sua capacidade de ação, de organização, de idalismo, de fraternidade, de altruísmo e devotamento à causa pública, durante o período revolucionário de 1932. "

Abaixo mostro algumas peças emblemáticas deste período, que trazem em si a lembrança da determinação e da doçura da mulher paulista naqueles dias.





Cruz Vermelha do Rio de Janeiro



CRUZ VERMELHA BRASILEIRA - Filial Rio de Janeiro
Praça da Cruz Vermelha, 10 – 2º andar – Centro – Rio de Janeiro
+55 (21) 2508 90 90

domingo, 14 de outubro de 2012



 A chave do sonho

José Castello

Chego ao capítulo nono de Estive Lá Fora, o novo romance de Ronaldo Correia de Brito (Alfaguara). Chego ao que, como leitor viajante, desde as primeiras páginas do livro, sem saber, eu perseguia. Quando se aproxima de uma ficção, todo leitor – mesmo que não saiba disso, mesmo que o negue - procura uma chave que o ajude a entrar no livro que lê. Pois encontrei minha chave: ela está no capítulo “Sonhos de Cirilo”. Com ela, posso abrir um caminho pessoal em meio à densa narrativa. E, assim, tomar posse do que leio. Um leitor é isso: alguém que se apossa de um livro. Que faz do texto alheio, seu texto. Que nele rasga uma segunda assinatura.




Protagonista do livro, o jovem Cirilo é um estudante de medicina no Recife que, para sobreviver, dá aulas no Sindicato dos Portuários. Na Casa do Estudante Universitário, divide um quarto obscuro com três amigos, Álvaro, Leonardo e Carlos. Veio do interior do Ceará, partiu quatro anos depois do irmão mais velho, Geraldo, que, envolvido na luta política, desapareceu. Estamos na década de 1960. A ditadura militar semeia o medo que, ultrapassando a repressão política, se infiltra nos vãos do cotidiano. É nessa atmosfera ambígua de insegurança e esperança que Cirilo luta para chegar a si. E, também, ao irmão desaparecido.


No início do romance, encontramos Cirilo debruçado sobre a murada de uma ponte do rio Capibaribe, decidido ao suicídio. Duplicando a imagem antiga do tio João Domísio, cujo corpo, crivado de balas, foi arrastado pela enchente de outro rio, o Jaguaribe, ele vê a si mesmo, sem vida, flutuando no lodaçal. “Sua revolta não se filia a nenhuma causa revolucionária como a do irmão Geraldo. Teria abjurado toda verdade proclamada para continuar andando pelos becos infames do Recife, em meio ao lixo”. O sol do Recife, em vez de iluminar, cega. Cirilo deseja “evadir-se para fora da luz”. Luz infernal, implacável, como suportá-la?


No capítulo nono – ali onde encontro minha chave – Cirilo relata três sonhos. No primeiro, um desconhecido lhe sopra no ouvido duas sentenças. Deve escolher uma delas. Ao fazer sua escolha, solta um gemido forte, que acorda os companheiros de quarto. O próprio Cirilo desperta, mas a sonolência o impede de anotar as revelações contidas nas duas frases e de registrar a escolha que fez. Na manhã seguinte, das duas sentenças restam só imagens vagas, que não chegam a compor um significado.


Nove noites depois, Cirilo tem um segundo sonho. Retorna à casa dos pais, em Inhamuns, quando se depara com um cego, que folheia um livro aberto entre as pernas. O livro não tem frases, apenas mapas do sertão. Neles, desmentindo a realidade, o sertão é farto em rios. Cirilo consulta o cego a respeito de passagens obscuras de sua vida. Ouve o que ele tem a dizer, mas, uma vez mais, se esquece do que ouve. De novo, da longa travessia, sobra um esquecimento.


Há, ainda no mesmo capítulo, um terceiro sonho. Nele, Cirilo, acompanhado da namorada Paula, está em uma festa. Entre eles, surge um rapaz, chamado Mário. “Imagino que tem alguma coisa a ver com mar e rio”, pensa. Outra vez, as águas estão onde não deveriam estar. Talvez o próprio Cirilo, que foi incapaz de lançar-se no Capibaribe, esteja deslocado de seu próprio lugar. Nada pode saber: seu destino é feito de desvios. Experiências perdidas para sempre.


Recife

No Recife, entre o trabalho monótono e os estudos, o rapaz julga procurar a si mesmo. Sem afastar a imagem do irmão Geraldo, acredita, também, que o persegue. Escondidas sob essas duas explicações, uma longa série de rombos sustenta sua existência. Não pode saber quem é porque nunca é o mesmo homem. Está sempre fora (de si). Nas cartas que escreve à mãe, expressa a angústia diante desse contínuo deslocamento. Dor que também não pode solucionar, mas só reinventar.

No capítulo nono de Estive Lá Fora, o dos três sonhos, Ronaldo Correia de Brito me entrega uma chave (a minha chave) para sua narrativa. Desde que chegou ao Recife, Cirilo se perde em uma longa cadeia de experiências, que não combinam entre si, tampouco desenham o mesmo homem. Elas, porém, o fazem viver. Deseja reencontrar Geraldo, mas teme que o reencontro se transforme em um desencontro – marcado pela incompreensão. Do alto da ponte do Capibaribe, o rapaz observa os caranguejos – que se limitam a viver, sem esperar da vida qualquer sentido.


Talvez seja o excesso de expectativas, e não só as agressões físicas que sofre na faculdade, que o massacrem. “Os colegas não perdoam seus cabelos grandes, a calça baixa mostrando os pentelhos, a camisa curta, o ar de desprezo pela turma”. Contudo, Cirilo não está só deslocado dos outros; sente-se em desacordo consigo mesmo. Quando o enxotam igual a um cachorro, é ele mesmo seu carrasco.


Alvaro, seu amigo, é um leitor incansável do poeta recifense Carlos Pena Filho (1929-1960), morto precocemente em um acidente de trânsito. Os poemas de Carlos, como goteiras líricas, se infiltram no romance de Ronaldo. Nas paredes do Bar Savoy, Cirilo depara com alguns de seus versos: “São trinta copos de chope,/ são trinta homens sentados,/ trezentos desejos presos,/ mais de mil sonhos frustrados”. Falam de tudo o que esquecemos mas, ainda assim, nos move. Falam dos sonhos perdidos de Cirilo, mais “verdadeiros” do que os atos concretos que pode recordar.


Levam-me a pensar que, sob a narrativa precisa e elegante de Ronaldo, devo buscar outros rios que, em segredo, sustentam minha leitura. Todo leitor é um detetive impotente, que não chega a decifrar o enigma que tem diante de si. Essa condição fraturada do leitor me leva, de volta, ao terceiro sonho de Cirilo. Abandonado pela namorada, Cirilo chega a uma casa habitada por doentes de paralisia cerebral. Sabe – sem saber como sabe – que eles são nove, embora não estejam todos ali. Apesar da doença, novo enigma, as pessoas são saudáveis e belas. Delas se aproxima. “Tenho uma pergunta a formular, porém desperto”. Como no sonho de Cirilo, também as melhores ficções nos deixam sem fala. Minhas perguntas não funcionam – minha chave emperra – e o livro de Ronaldo se agiganta.

Estive lá fora - Ronaldo Correia de Brito. Alfaguara, 295 págs., R$ 44,90.

José Guimarães Castello Branco nasceu no Rio de Janeiro, 1951, é  escritor jornalista e crítico literário -  Atualmente, José Castello escreve para O Globo. Está radicado em Curitiba desde o ano de 1994 onde trabalha mantendo uma oficina literária.






Ronaldo Correia de Brito - Nasceu no Ceará, 1950, é médico e escritor, pesquisador da cultura popular nordestina. Reside em Recife desde os 17 anos, recebeu o Prêmio São Paulo da Literatura em 2009 com o livro Galileia.  



Imagens: Internet, acervo pessoal de Lígia Lopes.

domingo, 2 de setembro de 2012

Ronaldo Correia de Brito relata o processo de criação de 'Estive Lá Fora'

Premiado ficcionista cearense lança livro nesta segunda-feira, 3 de setembro de 2012.

Ronaldo Correia de Brito



Numa quarta-feira, 18 de julho, precisava enviar a última prova revista de Estive Lá Fora ao editor Marcelo Ferroni, para cumprir os prazos estabelecidos. Mesmo o horóscopo garantindo que a Lua Nova do dia seguinte impulsionaria minha carreira para um novo caminho, o desejo era adiar essa entrega. Fazia dezoito meses que eu trabalhava no romance, quase sem interrupções, mas na derradeira leitura me pareceu que ainda havia muito a ser feito. Meu primeiro conto Lua Cambará, escrito em 1970, saiu publicado no livro Faca apenas em 2003; e Eufrásia Meneses, de 1973, somente em 2005, no Livro dos homens. Portanto, eu me habituara aos adiamentos, talvez por um gosto em garimpar palavras, dar polimento às frases e maturar as narrativas. Ou, mais provavelmente, porque tornar-me escritor foi sempre um dos conflitos básicos de minha vida. A Medicina me parecia bem mais adequada para servir aos meus semelhantes.



Ali estavam as 296 páginas do romance que eu pensava escrever desde que cheguei ao Recife para candidatar-me à universidade, e deparei-me com a ditadura militar, mais evidente e chocante do que no interior cearense, de onde eu viera. O terror adquiriu feições diferentes nas cidades brasileiras, recrudescendo em tempos desiguais, conforme a resistência política de cada Estado. No Recife, marcado pelas revoluções de 1817 e 1824, com um saldo de mortos e banidos que a história oficial não costuma referir, as pessoas pareciam habituadas à luta. Já no primeiro dia após o 31 de março, estudantes de Engenharia marcharam até o Palácio das Princesas e foram recebidos a bala, morrendo dois jovens no embate. Em 1969, ano em que cheguei à cidade, as forças de repressão haviam assassinado o padre Henrique, de apenas 28 anos, um sociólogo que trabalhava com o arcebispo dom Helder Câmara. O enterro tornou-se um dos mais emocionantes atos públicos contra a ditadura, acompanhado por 20 mil pessoas no percurso de dez quilômetros do bairro do Espinheiro ao cemitério da Várzea, com várias paradas por conta de ações da polícia e prisões de manifestantes.



Outra história que me marcou profundamente foi o atentado a bala contra um estudante de Engenharia, Cândido Pinto, que o deixou paraplégico e levou-o à morte em consequência de repetidas infecções, anos depois. A luta desse jovem revolucionário me impressionou por seus lances trágicos e sempre desejei narrá-la. Porém não sou um historiador nem possuo o menor talento para a biografia. Trabalho com memória inventada e mesmo essa necessita de uma centelha que a desencadeie. O encontro com Cândido Pinto só aconteceria em 1981, quando me mudei com a esposa e um filho para o bairro da Iputinga. Meu vizinho, o engenheiro Claudio Pinto, era irmão de Cândido. Sobre um móvel da sala de sua casa, avistei um retrato de família: pai, mãe, irmãos e irmãs do rapazinho magro, de sorriso alegre, recostado bem à vontade num muro de jardim. Guardei essa imagem durante anos. Um velho processo de aprendizagem da escrita, que consistia em descrever quadros reproduzidos nas páginas dos livros, nunca perdeu seu fascínio sobre mim. Eu já tinha o começo do romance: uma foto de família e um enredo para o personagem Geraldo.



Em Estive Lá Fora, como em Galileia, trato de famílias. Embora quase toda ação transcorra no Recife, a trama também remete ao Sertão dos Inhamuns, um dos cenários que mais visito. Dessa maneira, mantenho os vínculos com a paisagem de meus livros anteriores. O sertão alimenta o imaginário do personagem Cirilo, irmão de Geraldo; os antigos crimes da família o atormentam e o fascinam para a morte.

Não escrevi um romance sobre a ditadura militar - embora ela apareça em imagens de fundo -, mas sobre uma família que padece de insegurança e medo pelo destino de um de seus membros, Geraldo, que ingressou num partido político de esquerda e prega a luta armada. Cirilo, o irmão mais novo, veio morar no Recife para estudar Medicina e, a pedido da mãe, vigiar o irmão. Atormentado e contraditório, Cirilo é incontido no seu amor romântico pela verdade e a ética.

Existem muitas vozes narrativas no romance. Há trechos em que a mãe Célia Regina assume esse papel através de cartas enviadas a Cirilo. Noutros, o pai Luis Eugênio se torna narrador por meio de anotações feitas num livro de capa preta, onde registra e analisa os descaminhos de Geraldo.

Tentei recriar a atmosfera de horror do fim da década de 1960, quando as medidas provisórias e os atos institucionais haviam limitado direitos civis e liberdade de expressão. Fora das polaridades direita e esquerda, comunismo e capitalismo, o Recife também pulsava, como o restante do mundo, nos ecos da contracultura e do movimento hippie. Mantive diálogo com amigos que estiveram engajados na resistência à ditadura, alguns presos e um deles condenado à prisão perpétua. Essa conversa ao vivo ou por meio de e-mail com Abel Menezes, Alberto Vinicius, Alexandre Costa Lima, Everardo Norões, Homero Fonseca, José Arlindo Soares e Nancy Lourenço, sobre dez temas que nos eram caros e que estavam na pauta daqueles dias escuros, foram fundamentais para a construção do livro. Pensava em aproveitá-la como um capítulo especial, até imaginei o título de Conversa no Bar Savoy, mas as dificuldades editoriais para realizar isso me fizeram desistir da ideia.

Em Estive Lá Fora me refiro a autores que viveram o período entre as duas Guerras, principalmente os judeus massacrados pelo comunismo e o nazismo. Quando apenas sonhava em escrever o romance, ganhei de presente de minha mulher ensaios de Hannah Arendt reunidos com o título de Homens em Tempos Sombrios. Percebi através dessa e de outras leituras, que se estenderam por Hermann Broch, Walter Benjamin, Bruno Schultz, Isaac Babel, Thomas Mann e Kafka, entre vários autores, que os mecanismos do terror eram os mesmos, em qualquer época ou ideologia. Essa percepção é na verdade do personagem Cirilo, ele que tateia um caminho próprio, perambulando pelas ruas do Recife, humilhado e infeliz.

Diferentemente da escrita do conto, concisa e econômica, no romance tudo cabe. Por isso levei a sério a sugestão de Walter Benjamin de que escrever consiste largamente em citações - a mais louca técnica mosaica imaginável. Só que resolvi não pôr aspas nem itálicos. Citar é quase o mesmo que assistir a um ator representando com a técnica do equilíbrio instável: a plateia se mantém desperta, temendo que o ator possa cair a qualquer momento. As citações colocadas em pontos estratégicos da narrativa provocam o leitor a pensar, a manter-se acordado para o que lê. Quando eu me angustiava com o recurso das citações, também valorizado por Jorge Luis Borges, o amigo Abel Menezes lembrou-me o que Emerson escreveu sobre Shakespeare, em Homens Representativos: veio praticamente a ser uma espécie de regra da literatura que um homem, tendo uma vez se mostrado capaz de uma escritura original, está autorizado, a partir daí, a roubar dos escritos de outros com discrição. O pensamento é propriedade daquele que pode levá-lo em consideração e daquele que, de modo adequado, pode dar-lhe um lugar. Um certo desajeito marca o uso dos pensamentos emprestados, mas, tão logo saibamos o que fazer com eles, se tornam nossos. Desse modo, toda originalidade é relativa. Todo pensador é retrospectivo.



Talvez por conta de minha origem rural, da profissão de médico e da prática de encenador, habituei-me ao trabalho coletivo. As corporações de ofício sempre me encantaram. A assinatura é invenção da modernidade, coisa inimaginável para Giotto, quando criava seus afrescos com grupos de artesãos. Dou para ler o que escrevo aos amigos e parceiros, antes de publicar. Marcelo Ferroni fez várias leituras de Estive Lá Fora, desde que enviei os originais à editora, e já os primeiros esboços foram lidos por Thiago Corrêa, Alexandre Lima, Artur Ataide e Conrado Falbo. O arquiteto José Luiz Menezes me ajudou a recompor mapas e edifícios do Recife. De certo modo, faço parte de uma corporação literária.

Descobrir a fala adequada para personagens que transitam em mundos diferentes revelou-se a maior dificuldade desse romance. Não era possível que catadores de caranguejo, sindicalistas e professores falassem o mesmo léxico. Não aprecio as falas naturais, prefiro sempre os diálogos que causam estranhamento. Na última revisão ainda estava cheio de dúvida se manteria os arroubos gongóricos do personagem Carmo de Goiana, inspirado em Luiz Gomes Corrêa - Luiz de Goyanna - personagem real a quem os militares espancaram e arrastaram pela barba, castigando-o porque tocara finados pelo golpe militar.

Dediquei Estive Lá Fora a Ritinha Brito e João Leandro, meus pais. No longo e cansativo processo de escrita desse romance, eles estiveram amorosamente ao meu lado, na lembrança, é bem verdade. Os dois serviram de modelo à construção dos personagens Luis Eugênio e Célia Regina. Desde menino, me impressionava o esforço de meus pais para que os filhos tivessem acesso aos bens de cultura, mas nunca percebi neles a cupidez por bens materiais. Trazer o conhecimento para dentro da nossa casa tornou-se uma missão de vida, que se impuseram sem reclamar. Minha mãe era professora primária, abandonando logo cedo essa profissão para cuidar da família. Já adulto, meu pai estudou sozinho, encantado com a ciência, o progresso e o trabalho; mais tarde se tornaria comerciante.



Minha mãe não saberá que dediquei este romance a ela. Há dois anos e meio vive numa unidade semi-intensiva, em casa. Nos últimos meses não tenho certeza se compreende o que falo, quando vou visitá-la no Ceará. É difícil conviver nesse território de vida e morte, mesmo para mim, um médico de longa experiência. Foi para ela que li o primeiro texto de criança e percebi o efeito que as palavras causavam nas pessoas. Papai corrigia meus deveres até a exaustão, não deixando passar um erro. Queria sempre o mais perfeito. Vai ver que desse aprendizado a escrita tornou-se um exercício tão custoso. Mesmo renegando-a, é por meio dela que encaro os meus fantasmas, os mortos que me assombram desde bem antes de eu nascer.

ESTIVE LÁ FORA
Autor: Ronaldo Correia de Brito
Editora: Alfaguara
(295 págs., R$ 44,90)

  • Leia a seguir um trecho do primeiro capítulo de 'Estive Lá Fora'

Antes de se atirar nas águas barrentas do rio Capibaribe, Cirilo lembrou as humilhações sofridas de colegas e professores, que não perdoavam sua rebeldia nem seu desprezo por um modelo de ensino corrompido, em meio às sombras da repressão. Por duas vezes escapara de um massacre durante as aulas e quis desistir do confronto. Sentia um absurdo desejo de repetir João Domísio, o tio arrastado pela enchente do rio Jaguaribe, o corpo branco perfurado de balas, irreconhecível nos redemoinhos da correnteza. Não passou pela cabeça de Cirilo a questão se a vida valia a pena, nem foi a ausência de motivos lógicos para viver que o trouxe à ponte em que se debruça. Sua revolta não se filia a nenhuma causa revolucionária como a do irmão Geraldo. Teria abjurado toda verdade proclamada para continuar andando pelos becos infames do Recife, em meio ao lixo e à merda. Os suicidas jogam com a morte uma peleja cheia de malícia e sedução, trabalham estratégias ao longo de anos e o que chamam de impulso é apenas a cartada final.

Homens puxam carroças, indiferentes a Cirilo e ao manguezal sobrevivendo nas margens do rio. Será que o concreto armado substituiu alguma ponte de madeira? Vira-se em busca de trilhos de ferro, imagina se passavam bondinhos por ali. Deseja romper com o cenário em volta, mas não consegue. A memória refaz seus vínculos com o Recife, apega-se covardemente às imagens que afogará no mergulho. Cansou de procurar Geraldo, ausente da família desde que veio morar na cidade. Prometeu à mãe que cuidaria do irmão, vigiaria seus passos. Mas Geraldo sabe aonde vai, ligou-se a um partido político e faz discursos nas praças. Cirilo oscila ao movimento dos ônibus cheios de passageiros, avistados num relance. Exaustos e solitários, eles escurecem igual à tarde em que o sol e a chuva se revezam arbitrariamente.

Entre o impulso do corpo e o salto para baixo, nesse tempo mínimo, Cirilo se despede das coisinhas pequenas, sem significado aparente. Os olhos, doentes de tudo querer ver, enxergam aguapés na correnteza lamacenta e flores semelhantes ao lótus. Sujeira borra as pétalas aquáticas e refaz lembrança de outros rios e flores, num lampejo de gosto pela vida. E se desistir de morrer? As mãos se crispam na balaustrada da ponte entre ilhas do Recife, cidade cujo destino é inundar-se no Atlântico. Ele também irá sumir; encher os pulmões de lama podre e sepultar-se entre algas marinhas que o olhar não alcança. Caso sobreviva ao afogamento, morrerá de pneumonia ou remorso pelo crime de João Domísio, o fantasma cuja história o persegue desde criança.

Sabe que no último instante lançará pedidos de salvação. Sempre se deixou conduzir por um rio invisível, debatendo-se em vez de nadar aprumado como os atletas das piscinas. Enquanto a mão esquerda o afastava do desespero, a direita anotava em cadernos o que lhe parecia necessário dizer, sobrevivendo através desses sinais. Quem garante a um náufrago que seu testamento escrito num pedaço de pano, enfiado numa garrafa e atirado ao mar, será lido? E que importância tem que seja lido ou não, se ao escrever o autor se liberta da apreensão, deixando seu testemunho sobre as ruínas? Centenas de escritos se guardaram por anos debaixo da terra, em túmulos ou edifícios soterrados, à espera de quem os libertasse da mudez. O que está sob a terra é nada. Olhar para cima e encarar a luz é bem mais aprazível que morrer. Pensa nessas coisas, porém nunca lembra quem as escreveu.

O sol do Recife cega. Não menos intenso brilhava numa cidade longe sobre a cabeça da avó, do pai, da mãe e dos irmãos, no dia em que se despediram chorando à porta de casa, a mãe recuada uns passos para que não vissem suas lágrimas. O pai levaria Cirilo à rodoviária, ao ônibus e à promessa ameaçadora do Recife. Altivo, parecia alheio à contração dos dentes do filho, à força com que segurava o choro porque era interditado aos homens da família chorar. Caminhava à frente, como o deus Hermes conduzia as almas ao inferno. Na véspera, Luis Eugênio narrara a história do rei que possuía três filhos homens e cada um deles, ao atingir a idade adulta, pedia licença para deixar a casa paterna. Geraldo, o mais velho, fora embora havia quatro anos, um pouco antes do golpe militar. "Você quer minha bênção com pouco dinheiro ou minha maldição com muito dinheiro?", perguntava o pai da história, e apenas o filho mais novo escolhia a bênção e um caminho espinhoso.

Adianta recompor os cenários que o cercam, se tem certeza de que irá morrer? Importa se nesse lugar onde se equilibra precariamente existiu, no século dezenove, uma ponte de ferro ou de madeira? A concretude da ponte não diminui seu desejo de evadir-se para fora da luz, num salto que ainda não aconteceu. Fugir significa delegar a morte para outro? Quem pulará da ponte no seu lugar? Geraldo não aceita os traçados da família, as árvores genealógicas que a mãe desenrola sobre a mesa após a janta, buscando nos rostos dos filhos sinais que apenas ela reconhece. Qual ponte do Recife Geraldo cruza nesse momento, indiferente às aflições da mãe? Em casa, o pai arrancou da moldura o retrato do filho primogênito, deixando um vazio na parede, uma ausência que nenhuma imaginação preenche.

Depois de chuvas prolongadas, casas e prédios do Recife se intumescem, rebocos largam os tijolos e as pinturas das paredes mostram camadas superpostas de cores: borrões abstratos que nenhum pintor conseguiria imitar. Fedorentas e tristes de tão escuras, as ruas lembram uma cidade bombardeada. Cirilo se desloca de um mastro a ponto de desmoronar e caminha para o outro lado da ponte. Acende um farol imaginário, sinalizando em busca de salvação. Avista a rua larga da Benfica, gradis de ferro, pinhas e capitéis de passado mourisco, azulejos portugueses brilhando no sol que apenas de vez em quando mostra a cara. Poderia subir à torre mais alta do castelo construído por um senhor de engenho, enriquecido no comércio de açúcar pelo sacrifício de escravos. Senhores opulentos e arrogantes, a mesa farta de sabores. Sente um oco no estômago, não comeu quase nada desde o café. Os bolsos vazios de dinheiro, a barriga vazia de alimentos. E se despisse a roupa antes de atirar-se nas águas? Achariam que desejava se banhar no Capibaribe, do mesmo jeito que se banhava no rio Jaguaribe. O morto boiando nu pareceria desvalido, sozinho e despojado do sobrenome Rego Castro que tanto orgulha a mãe. Encontraram o tio João Domísio com todos os sinais da nobreza: jaqueta de veludo, camisa fina com abotoadores de prata, botinas de couro curtido, um anel de ouro com arabescos de flores e ramos entrelaçados. No meio das águas barrentas, o corpo preso aos destroços das margens, morto com três tiros no peito esquerdo. Longe do Recife que ele tanto amou, onde Cirilo desceu de um ônibus empurrado pela vontade do pai, arrastando a mala de sola com poucas roupas e uma caixa de livros. Ansiando por encontrar o irmão, mas sem querer repetir a história do tio assassino.

A ponto de invadir as ruas, águas barrentas cobrem as pilastras de sustentação da ponte e não é possível enxergar os moradores habituais do mangue, os caranguejos de patas sorrateiras, que nas marés baixas escalam paredes como soldados as muralhas de uma fortaleza, para tomá-la de assalto. Formam escadas uns sobre os outros, desmoronam e caem. Os de baixo desistem de sustentar os de cima, abandonam a posição inferior que ocupam na escada de equilibristas e todos retornam à lama. Dizem que a sociedade recifense reproduz o comportamento dos caranguejos: ninguém gosta de ver o outro subir na vida. Cirilo inquieta-se, acende um cigarro, procura saber a hora. Por que a preocupação com o tempo? Escuta a voz de Álvaro, um amigo com quem divide angústias e o quarto de estudante:

- Aproveita o impulso! Ou queres te matar depois de reflexões?

Álvaro cita o que os outros disseram como se fosse próprio. Fragmenta os pensamentos alheios e dessa maneira constrói seu discurso. Argumenta que os bens de cultura são propriedade de todos, estão aí para serem usados, e profetiza que a assinatura irá desaparecer em breve.

Ronaldo Correia de Brito - Nasceu em Saboeiro no Ceará e mora em Recife. É médico formado pela Universidade Federal de Pernambuco.
 Desenvolveu pesquisas e escreveu diversos textos sobre literatura oral e brinquedos de tradição popular, além de ter sido escritor residente da Universidade da Califórnia, em Berkeley, no ano de 2007. Escreveu os livros de contos As Noites e os Dias (1997), editado pela Bagaço, Faca (2003), Livro dos Homens (2005), e a novela infanto-juvenil O Pavão Misterioso (2004), todos publicados pela Cosac Naify. Dramaturgo, é autor das peças Baile do Menino Deus, Bandeira de São João, Arlequim, e o romance Galiléia pela Alfaguara. Retratos Imorais - Alfaguara / Objetiva. Escreveu durante sete anos para a coluna Entremez, da revista Continente Multicultural, e atualmente assina uma coluna semanal na revista Terra Magazine e coluna no Jornal O Povo (Ceará). 

Fonte: O Estadão - 31/08/2012
Imagens: Internet e acervo pessoal de Lígia Lopes

terça-feira, 14 de agosto de 2012

PERU - O IMPÉRIO DO SOL

Quem me conhece sabe da minha paixão pela cultura pré-colombiana. Entre elas, a que mais me fascinou foi a cultura incaica. Das viagens que fiz ao Peru, além das irresistíveis belezas naturais, as lendas, e a música andina, o que mais me cativou foi a hospitalidade, a delicadeza e a alegria estampada nos rostos do povo e nas vestimentas que irradiam vida, luz e aconchego. Assim, faço essa singela homenagem àqueles que continuam me proporcionando encantamento e boas lembranças.


Machu Picchu
 Os Primeiros Povoadores

Os primeiros povoadores chegaram a Perú 20.000 anos atrás. Trouxeram instrumentos de pedra e só sabíam caçar e recolher frutas. Alguns deles estabeleceram-se em Paccaicasa (Ayacucho). De acordo com as caraterísticas dos restos do peruano mais antigo (7.000 años) tinha a cara ampla, a cabeça alongada e uma estatura de 1.60. Os primeiros peruanos têm deixado mostras de sua arte rupestre em Toquepala (Tacna, 7.600 a.C.) e de sua vivenda em Chilca (Lima, 5.800 a.C.).


Quipos - nós que serviam para contar rebanhos e outras mercadorias. Atualmente, alguns cientistas acreditam que também estejam neles registradas, algumas histórias. 
 
O processo de domesticar plantas culminou com a agricultura e a construção de aldeias e centros públicos ceremoniais. Quando se integraram as culturas regionais, apareceram técnicas novas como a arte textil, a metalurgia e a olaría, originando o nascimento das altas culturas.


Império Incaico

As Culturas Pré-incas

As culturas pre-incas assentaram-se ao longo de 1.400 anos na costa e na serra de Perú. Algumas atingiram, com seu poder e influência, grandes áreas de nosso território, que quando decaíram, permitiram o florescimento de pequenos centros regionais. Todas elas caracterizaram-se pela sua particular cerâmica ritual, por uma adaptação surpreendente ao meio e um excelente manejo dos recursos naturais; amplos conhecimentos que posteriormente alimentaram à cultura Inca.
A primeira civilização peruana estabeleceu-se em Huantar (Ancash) no ano (1.200 - 200 a.C). Seu poder, baseado numa ordem teocrática, teve seu centro no templo Chavín de Huantar, em cujas paredes e galerías abundaram as esculturas de ferozes deuses com caraterísticas felinas.



Manco Cápac e Mama Oclio - Fundadores da civilização Quéchua (inca). Segundo a lenda, ambos caminharam por vários lugares até, finalmente,  enterrarem o cajado de ouro em solo sagrado - Cusco - que viria a ser a origem de todo esse maravilhoso império.
  
Rituais quéchuas/Incas


O Senhor de Sipán (cultura Moche)


A cultura Paracas (200 a.C - 600 d.C.) surgiu na costa sul de Perú. Atingiu um importante desenvolvimento na arte textil.

Artesanato Mochica (Moches)

Na costa norte desenvolveu-se a cultura Moche (200 a.C - 600 d.C.). Aglutinou às autoridades militares dos vales da costa, como o conhecido senhor de Sipán. Os huacos retrato da cultura Moche e sua iconografia surpreendem pela sua elaboração e o emprego do desenho.

Na serra peruana, a cultura Tiahuanaco (200 d.C.) localizou-se na região do Collao (que abrange territórios de Chile e Bolivia) e deixou aos peruanos as terraças de cultivo, as escadarias, e o manejo de diversos andares ecológicos na agricultura.

A cultura Nasca (300 a.C. - 900 d.C.) venceu o deserto da costa com aquedutos subterrâneos e deixou nesse terreno grandes figuras geométricas e de animais que, parece, constituiram um calendário agrícola que até agora assombra aos pesquisadores.

A cultura Wari (600 d.C.) introduz o modelo urbano no território de Ayacucho e expandeu sua influência nos Andes.

A refinada cultura Chimú (700 d.C.) trabalhou o ouro e outros metais e construiu com barro a cidade de Chan Chán, localizada em Trujillo.

A cultura Chachapoyas (800 d.C.) utilizou ao máximo as terras cultiváveis e realizou suas construções no alto das montanhas da selva norte. A grandeza da cidade fortificada de Kuelap é o exemplo de sua magnífica adaptação ao meio.










Os Incas (ou Quéchuas) - A cultura Inca/Quéchua (1.200 -1.500 d.C.) foi a civilização mais importante da América do Sul. A organização econômica e a distribuição da riqueza, suas manifestações artísticas e sua arquitetura impressionaram aos primeiros cronistas.
Os Incas adoraram à terra (Pachamama) e ao sol (Inti). O Inca, soberano do Tahuantinsuyo, considerava-se sagrado e filho do sol, é por isso que as lendas de orígem dos incas relatam que o sol envía seus filhos (Manco Cápac e Mama Ocllo ou os quatro irmãos Ayar e suas mulheres) a fundar Cusco, cidade sagrada e centro do Tahuantinsuyo.
A expansão dos Incas é atribuida a que foram extraordinários organizadores. O ayllu era o núcleo central, familiar e territorial da população, e si devía se afastar por motivos laborais, não perdia os vínculos com o seu ayllu. O Inca mobilizava grandes quantidades de população como prêmio ou castigo e assim foi consolidando a expansão, à vez que se nutría dos conhecimentos das culturas desenvolvidas com anterioridade. O grupo de parentesco do Inca era a panaca, que estava integrada pelos parentes e seus descendentes, com exceção de aquele que converter-se-ia em Inca e formaria uma nova panaca. Os cronistas espanhóis do século XVI assinalaram que foram treze seus soberanos: desde o legendário Manco Cápac até o polêmico Atahualpa, quem perdeu sua vida durante a conquista espanhola.
O Tahuantinsuyo ou Imperio Inca, conseguiu se expandir até os atuais países de Colombia pelo norte e Chile e Argentina pelo sur, incluindo totalmente os territórios de Bolivia e Equador.
Os membros das panacas eram os nobres incas, encabeçados pelo soberano. O poder das panacas e do Inca é tangivel em todo o Tahuantinsuyo, mas é na arquitetura cusquenha que atinge seu esplendor: o Koricancha ou Templo do sol, as fortalezas de Ollantaytambo e Sacsayhuamán e sobretudo, a cidade de Machu Picchu.


O Encontro de dois Mundos

O encontro da cultura inca com a cultura espanhola iniciou-se com a conquista espanhola no século XVI. Em 1532 as tropas de Francisco Pizarro capturaram Atahualpa em Cajamarca. A população aborigine decresceu nas primeiras décadas e o Vice-reinado de Perú foi criado em 1542 depois de uma confrontação entre os próprios conquistadores e a Coroa espanhola.


Túpac Amaru

No dia 16 de novembro de 1532, Pizarro, com sua pequena força expedicionária, chegou a Cajamarca onde, deixando seu exército fora da cidade, aceitou o convite do imperador Atahualpa para um jantar no qual assassinou sua pequena guarda de honra e fez o próprio imperador seu prisioneiro. No ano seguinte Pizarro invadiu Cuzco com tropas indígenas e derrubou o Tahuantinsuyu (império inca).


Francisco Pizarro

Julgando que a capital Cuzco estava muito distante e muito acima no altiplano, Pizarro fundou a cidade de Lima no dia 18 de janeiro de 1535, prosseguindo em árdua campanha pois as forças Incas tentaram retomar Cuzco, sendo derrotadas por Almagro que, por isto, julgou-se em condições de tomá-la para si, gerando uma disputa com Pizarro que o derrotou e o executou em 1538 na cidade de Ute.

Entretanto, partidários de Almagro assassinaram Pizarro em 26 de junho de 1541. Encontra-se sepultado na Cathedral de la Plaza Mayor, Lima no Peru.

O processo de assentamento espanhol consolidou-se no século XVI com o vice -rei Francisco de Toledo quem, a partir de suas ordenanças, assentou o fundamento para a economía colonial: o sistema de contrôle de mão de obra indígena (mita) para a minería e a produção artesanal. Estas atividades, junto com o monopólio mercantil, foram a base da economia colonial. Mais o câmbio de dinastia e as reformas borbônicas do século XVIII criaram disconformidade entre muitos setores sociais. A mais importante das rebeliões indígenas foi a de Túpac Amaru II, que iniciou a geração do movimento crioulo que independizou Hispanoamérica no século XIX.
Até o século XVII o Vice-reinado de Perú abarcou o território que estendía-se desde

Panamá até a Terra do Fogo.A prédica dos sacerdotes misturou-se com as crênças andinas até que foi estabelecido um sistema de crênças mixto, o sincretismo, que continúa até a atualidade. Junto com os espanhóis, chegou também a Perú a raça negra, que somada à povoação indígena e espanhola, forma parte do tecido social e racial de nosso país.

Durante os séculos XVI e XVII, a produção inteletual e a arte colonial peruana integraram seus aportamentos à tradição espanhola.

O Nascimento do Estado Peruano

Perú foi declarado país independente por Don José de San Martín em 1821 e em 1824 Simón Bolívar terminou com as guerras da independência. Porém, apesar dos esforços por organizar a jovem república peruana, no século XIX o país teve que enfrentar o custo da luta: a dura crise econômica e um caudilhismo militar que deu poucas oportunidades a governos civis para governar.

Ao redor de 1860, graças às receitas do guano, algodão e açúcar, pôde-se prescindir da contribuoção indígena e a escravatura dos negros. Chegam chineses e europeios para ampliar a mão de obra e se integrar a nossa sociedade. O país é unido com ferrovias e com Manuel Pardo como presidente, organiza-se o primeiro regime civil de Perú. Os primeiros japoneses chegaríam a fins do século.
Mas em 1879 o país vê-se envolvido na guerra com Chile. Perú é derrotado e fica em bancarrota. Depois de um novo apogeu do caudilhismo militar, voltam os civis, dando lugar ao periodo chamado a "República Aristocrática": a economía é dominada pela elite terratenente e implanta-se um modelo exportador no qual o éxito da exportação do caucho renovou o mito do El Dorado.


Peru: Patrimonio da humanidade -  Machu Picchu

Cidade de Cusco inscrita na lista do Patrimônio Mundial em 1983.
Cusco, ao sul dos Andes peruanos (3250 m de altitude), é a primeira cidade turística do país e uma das mais importantes da América. Conhecida pelos incas como a "Cidade Sagrada", Cusco é a capital de um dos principais impérios pré-colombianos: o Tahuantinsuyo. Seu nome em Quechua, Qosqo, significa o "umbigo do mundo", já que nos seus tempos, controlava uma vasta rede de caminhos que uniam, na prática, toda a América do Sul, desde o sul da Colombia até o norte da Argentina.


Explorador que encontrou Machu Picchu em 1911

A antiga cidadela de Machu Picchu, ao sul dos Andes peruanos, é a principal atração de Cusco. Descoberta em 1911 pelo explorador estadunidense Hiram Bingham, a cidadela é considerada como o exemplo

mais extraordinário da arquitetura paisagística do mundo.Machu Picchu ("montanha velha" em quechua, a antigua língua do Inca) está situada no topo de uma montanha que domina o profundo cânion do rio Urubamba, em plena selva tropical. Acredita-se que foi um centro de culto e de observação astronômica ou o recinto privado da família do
Inca Pachacútec.

Complexo arqueológico de ChavínInscrito na lista do Patrimônio Mundial em 1985
O sitio arqueológico de Chavín de Huántar, pertencente ao período que vai do ano 1000 à 300 a.C., representa a síntese do desenvolvimento da cultura andina. Situado a 3185 m de altura e a somente três horas por rodovia da cidade de Huaraz, o centro religioso de Chavín foi construído totalmente de pedra, com corredores subterrâneos e várias estruturas piramidais. No interior do complexo podem ser apreciadas figuras em baixo relevo, nos arcos e nas colunas, que combinam caracteres felinos, de aves rapinas e de serpentes, elementos sempre presentes na iconografia Chavín. Na galeria subterrânea pode ser visto o Lanzón, um grande monolito de 3.75 metros de altura, com a forma de uma gigantesca ponta de lança. Chavín é um dos lugares sagrados mais antigos da América.

O Huascarán é o segundo parque mais alto dos Andes da América do Sul e constitui o coração da cadeia montanhosa tropical mais alta do mundo. Suas altas superfícies planas e o cume glacial do nevado que superam os 6000 metros de altura, são o ambiente onde convivem diversas espécies de fauna como o condor, a vicunha, o cervo de rabo branco, o puma, a vizcacha, o gato e o zorro andino. O parque Huascarán possui 27 montanhas, 663 glaciais, 269 lagos e 41 rios.

Chan Chan é conhecida a nível internacional como a maior cidadela de barro do mundo pré-hispânico. Na língua Yunga, Jang Jang significa "sol, sol". Foi a capital religiosa do senhorio Chimú (700 - 1400 d.C.),

no vale do rio Moche, no Departamento de La Libertad (norte do Peru). Sua extensão é de aproximadamente 20 km2, e estima-se que nela habitaram perto de cem mil pessoas. A cidade foi o centro urbano com um vasto estado regional que dominou a metade da costa peruana desde Tumbes e a fronteira com Equador até o sul de Lima.

O parque está situado entre as provincias do Manu (Madre de Dios) e Paucartambo (Cusco), e compreende os territórios do sopé dos Andes Orientais na selva amazônica peruana. A área está

habitada por um variado número de tribos, a maioria dos quais, paraíso de 20 000 variedades de plantas, 200 espécies de aves, 200 espécies de mamíferos e um número desconhecido, até o momento, de répteis, anfíbios e insetos. sopé dos Andes Orientais na selva amazônica peruana. A área está habitada por um variado número de tribos, a maioria dos quais, paraíso de 20 000 variedades de plantas, 1 200 espécies de aves, 200 espécies de mamíferos e um número desconhecido, até o momento, de répteis, anfíbios e insetos.

Em 1991 agregou-se o Convento de São Francisco de Lima, conhecida como a Cidade dos Reis, foi desde sua fundação um oásis da cultura e da elegância na América Espanhola. Igrejas de estilo barroco e renascentista, palácios com sacadas estilizadas que constituem a notável arquitetura de Lima, uma cidade que oferece ao visitante museos, galerias de arte, lugares de recreação e sitios arqueológicos pertencentes a civilizações anteriores à época incaica.

Situado nos Andes orientais do Peru, o parque situa-se na confluência dos rios Maranhón e Huallaga, ambos afluentes do rio Amazonas. Existe na zona importante testemunho pré-hispânico que ocupa uma superfície superior a 1500 km2 tanto dentro, como fora do parque. Desde 1986 o Parque do rio Abiseo não está aberto ao público.

Linhas de Nazca
A duas horas de Ica, as incríveis linhas que traçam diversas figuras de animais, aves e divindades, cobrem o deserto numa extensão superior a 450 km2. As linhas de Nasca, descobertas em 1927, são a herança mais importante deixada pela cultura Nasca, uma civilização que floresceu em 300 a.C. As linhas,em alguns casos, atingem uma longitude de 300 metros, por isso somente podem ser vista do alto. una civilización que floreció en el 300 a.C. Las líneas, en algunos casos, tienen una longitud de 300 metros, por lo que pueden ser vistas sólo desde lo alto.

Arequipa, a segunda maior cidade do Peru, está situada ao sul dos Andes peruanos. Também é conhecida como a "Cidade Branca", pelas pedras vulcânicas chamadas (sillar), com as quais são construidas as casas e os edifícios públicos da cidade. Nos arredores de Arequipa existem inumeráveis atrações turísticas como os cânions de Colca e de Cotahuasi, este último é o mais profundo do mundo. O vale de Colca, pela sua paisagem, constitui um cenário natural impressionante, pela combinação de terraços agrícolas que existem desde a época incaica e várias vilas fundadas no século XVI.
Fonte: http://www.peru.info/peruptg.asp
Imagens: Internet