Leyni Andrade/AE
SÃO PAULO - "Os paulistas vão ter de se esforçar mais." Com essa frase irônica, o governador José Serra encerrou a cerimônia de entrega do 2.º Prêmio São Paulo de Literatura, em cerimônia realizada no Museu da Língua Portuguesa. Afinal, o escritor cearense Ronaldo Correia de Brito foi o vencedor do Livro do Ano de 2008 com o romance Galiléia (Alfaguara). A láurea de melhor livro de autor estreante foi para A Parede no Escuro (Record), do gaúcho Altair Martins. Cada um recebeu um troféu e um cheque de R$ 200 mil. "Isso prova que o prêmio não é regional", disse ainda o governador, que esteve acompanhado do prefeito Gilberto Kassab e do secretário de Estado da Cultura, João Sayad, na noite de segunda, 3/8/09.
Trata-se do prêmio que melhor paga no Brasil, o que foi ressaltado pelos dois autores. "Agora, conseguirei quitar a minha casa e, quem sabe, diminuir um pouco as aulas que dou na universidade para me dedicar mais à literatura", disse Martins, considerado uma das melhores revelações da literatura do Rio Grande do Sul. "O escritor necessita de tranquilidade e isso deveria ser também observado por outros governos estaduais", disse Correia de Brito, que vive em Pernambuco. Neste ano, foram inscritos 217 romances, publicados por 75 editoras. Entre os estreantes, havia 13 autores. "Nossa intenção é, de fato, tornar o prêmio em algo escandaloso a fim de chamar a atenção para os livros e seus autores", disse Sayad, cuja secretaria promove o concurso desde o ano passado.
SÃO PAULO – O escritor cearense Ronaldo Correia de Brito conquistou na noite desta segunda-feira (03) o Prêmio São Paulo de Literatura, concedido pelo governo paulista. Ele ganhou R$ 200 mil por "Galiléia", considerado o melhor livro do ano.
O prêmio de melhor autor estreante foi para o gaúcho Altair Martins, pelo livro "A Parede no Escuro". Ele também levou R$ 200 mil. Essa foi a segunda edição do Prêmio São Paulo de Literatura, entregue durante cerimônia no Museu da Língua Portuguesa. No ano passado, os ganhadores foram "O Filho Eterno", de Cristóvão Tezza (livro do ano) e "A Chave da Casa", de Tatiana Salem Levy (autor estreante).
Os R$ 200 mil são a maior premiação da literatura brasileira. "Galiléia" e "A Parede no Escuro" foram os vencedores entre mais de 200 inscritos. Na cerimônia, o governador José Serra afirmou que “como o prêmio não é regional, os paulistas terão de se esforçar”. Entre os vinte finalistas (dez em cada categoria) estavam autores destacados, como José Saramago ("A Viagem do Elefante"), Moacyr Scliar ("Manual da Paixão Solitária"), Milton Hatoum ("Órfãos do Eldorado") e João Gilberto Noll ("Acenos e Afagos").
Ronaldo das letras fatura R$ 200 mil
"Finalmente, um Ronaldo conseguiu ganhar dinheiro no Brasil sem precisar jogar futebol", ironizava o escritor cearense Ronaldo Correia de Brito, na noite de segunda-feira (3), com um troféu em uma das mãos e um polpudo cheque na outra. Momentos antes, ele foi anunciado como autor do melhor livro do ano passado, Galileia (Alfaguara), tornando-se o principal vencedor do 2º Prêmio São Paulo de Literatura. Trata-se do melhor incentivo das letras nacionais, pagando R$ 200 mil como prêmio. Na mesma cerimônia, realizada no Museu da Língua Portuguesa, o gaúcho Altair Martins foi eleito o autor estreante de 2008, com o romance A Parede no Escuro (Record), faturando também um troféu e a mesma quantia.
Pois foi durante a preparação de sua tese de mestrado que ele escreveu A Parede no Escuro. "Eu comecei a rascunhar o romance mas não estava satisfeito, quando decidi continuar com a sua escrita ao mesmo tempo em que estudava o esfarelamento do narrador do romance contemporâneo", lembrou Martins, que precisou de 7 anos para dar o ponto final. A experiência foi tão produtiva que Martins pretende repetir a dose e preparar o próximo livro, agora de contos, ao mesmo tempo que faz pesquisa acadêmica.
Ronaldo Correia de Brito vence concurso de Melhor Livro do Ano com obra “Galiléia”SÃO PAULO [ ABN NEWS ] - O Governo do Estado de São Paulo, por meio da Secretaria de Cultura, anunciou o resultado do Prêmio São Paulo de Literatura 2009 nesta segunda-feira (3), no Museu da Língua Portuguesa em São Paulo. O júri escolheu como Melhor Livro do Ano de 2008 a obra "Galiléia", de Ronaldo Correia de Brito. Na categoria Melhor Livro do Ano - Autor Estreante, o título ficou com Altair Martins, autor de "A Parede no Escuro". Os ganhadores das duas categorias receberam, cada um, R$ 200 mil.O concurso teve 217 romances de 75 editoras e 13 autores independentes inscritos nesta edição. A primeira edição do Prêmio São Paulo de Literatura foi realizada em 2008 e recebeu inscrições de 146 romances de 55 editoras e 19 autores independentes. Naquela ocsião, o vencedor do prêmio de melhor livro foi Cristovão Tezza, por "O Filho Eterno", e o Melhor Livro de Autor Estreante foi "A Chave de Casa", de Tatiana Salem Levy.O governador de São Paulo, José Serra, participou da premiação e antecipou o anúncio da realização da 3ª edição do evento. "Este é um prêmio que veio para ficar. Três anos [em 2010] será tempo suficiente para fixá-lo como um marco. Em 2008, tivemos 146 romances registrados. Este ano, 217. É um aumento significativo", disse. Serra citou a frase "minha língua é minha pátria" do poeta Fernando Pessoa para ressaltar que o prêmio não tem limites regionais. "[O prêmio] ultrapassa os limites territoriais do Brasil. Pelos vencedores, vocês podem ver que é um prêmio nacional. Ganharam um gaúcho [Altair] e um cearense [Ronaldo] que mora em Pernambuco", completou.Durante seu discurso, o governador destacou outros programas de fomento à literatura promovidos no Estado de São Paulo. Serra citou o Festival da Mantiqueira, onde os finalistas do Prêmio São Paulo de Literatura 2009 foram anunciados, o Viagem Literária, programa de incentivo à leitura que percorre o interior do Estado, e o projeto Biblioteca São Paulo, que será inaugurado em janeiro no Parque da Juventude e receberá investimentos de R$ 12 milhões. O governador salientou ainda a importância da Imprensa Oficial na publicação de livros que não têm apelo comercial.O secretário de Cultura, João Sayad, também esteve no evento e enfatizou a dimensão do prêmio. "Queremos que seja um prêmio escandaloso para que chame atenção para os livros, para os autores e, principalmente, para a leitura", afirmou. Também participaram da entrega do Prêmio São Paulo de Literatura 2009 o secretário de Educação, Paulo Renato Souza, o secretário de Relações Institucionais, José Henrique Reis Lobo, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, e o coordenador da Unidade de Fomento e Difusão de Produção Cultural, André Sturm.Os livros finalistas foram escolhidos após avaliação de júri formado pelos professores Ivan Marques e Marcos Moraes, pelos escritores Menalton Braff e Fernando Paixão, pelos livreiros Paula Fabrio e José Carlos Honório, pelos críticos literários Marcelo Pen e Josélia Aguiar e os leitores Márcia de Grandi e Mario Vitor Santos. Entre autores concorrentes, estavam nomes consagrados da literatura como José Saramago, Milton Hatoum, Moacyr Scliar e João Gilberto Noll. A avaliação final foi feita por um segundo grupo de jurados, que chegou aos dois vencedores.
http://www.abn.com.br/editorias1.php?id=51713 - Agência Brasileira de Notícias
Terra Magazine entrevista Ronaldo Correia de Brito
05/08/2009 por carmezim
Aproveitando o assunto do post anterior, indico texto e entrevista com Ronaldo Correia de Brito, no Terra Magazine, site do qual o escritor é colunista. Um aperitivo:
Como é para um médico ganhar um grande prêmio de literatura brasileira?
Para a pessoa única, porque não tem essa separação entre médico e escritor, é uma grande alegria. Passei oito anos trabalhando Galiléia, então é muito bom você ser reconhecido. Há uma projeção extremamente bem feita e delicada antes da entrega do prêmio. A solenidade toda é de uma classe impressionante. Todos os autores têm um tempo de fala, são filmados, falam de seu trabalho, leem um pedaço de seu livro. Isso é uma democratização muito grande. Tem que ter dois ganhadores, mas todos os autores foram mostrados, estão presentes. Deslumbrante foi levar todos os artistas para espaços diferentes de São Paulo para conversar com platéias das mais heterogêneas. Antes de premiá-los, durante meses, os artistas foram sendo apresentados. Isso é muito bom, é para ser imitado no Brasil todo.
http://carmezim.wordpress.com/2009/08/05/terra-magazine-entrevista-ronaldo-correia-de-brito/
Sertão de Ronaldo transpõe fronteiras
Publicado em 05.08.2009, às 09h53Schneider Carpeggiani Do Caderno C/Jornal do Commercio
Prêmio São Paulo de Literatura ultrapassou o Portugal Telecom e é hoje o maior concedido no Brasil.
Ronaldo Correia de Brito estava em São Paulo, há um ano, para lançar o romance Galileia na Balada Literária. Dividia a mesa de debates com o escritor gaúcho Altair Martins. Os dois foram apresentados ao público pelo organizador do evento, Marcelino Freire, como “os futuros ganhadores do Prêmio São Paulo de Literatura”. “Ele falou pela boca de um anjo (risos)”, brincou Ronaldo Correia de Brito ontem pela manhã, horas depois de ter vencido o Prêmio São Paulo de Literatura, na categoria Livro do Ano, por Galiléia. Altair Martins ganhou como autor estreante com A parede no escuro. A cerimônia de entrega aconteceu no Museu da Língua Portuguesa.
O Prêmio São Paulo de Literatura ultrapassou o Portugal Telecom e é hoje o maior concedido no Brasil. São R$ 200 mil para cada uma das duas categorias. Ano passado, na primeira edição, os ganhadores foram O filho eterno, de Cristóvão Tezza (livro do ano), e A chave da casa, de Tatiana Salem Levy (autor estreante).
Mesmo em se tratando de autores tão distintos, as obras vencedoras guardam semelhanças: traumas familiares e a suspeita de que as entranhas do Brasil agora inspiram histórias que desmontam os clichês do regionalismo. E por falar em regionalismo e em desmonte, Ronaldo tem construído uma obra de demolição gradual da épica do Sertão. “Se você fala de regionalismo em termos de lugar, da linguagem, tudo bem. Mas se regionalismo tem a ver com a noção do Romance de 30, ah, isso não existe mais”. Para ele, a ideia de Sertão não aceita uso do singular, de clichês e das antigas teorias redutoras.
“O Sertão é um espaço geográfico que remete à memória de outros espaços como a Grécia, o deserto dos árabes e hebreus, a Península Ibérica moura e a Sicília, que possuem uma cultura marcadamente própria e longeva. O imaginário em torno do Sertão e do homem sertanejo serviu à produção de música, literatura, cinema, artes plásticas de boa e de má qualidade. Há diversos períodos nessa produção, com características próprias de linguagem. Há o sertão romântico, o realista, o naturalista, o mítico e por aí afora. O tema não se esgota, se transforma. É um perigo agarra-se ao ideário do que já não existe. Por exemplo, a Espanha ainda celebra a cultura andaluza, mas tem Almodóvar, Gaudí e Miró. No Brasil, felizmente, várias tendências artísticas caminham ao mesmo tempo”, aponta Ronaldo.
A excelente recepção do romance é o sintoma de um tempo, acredita Ronaldo, em que o sentimento de não pertencimento é corrosivo. Seus personagens abandonam o lar e tentam ensaiar o mito do retorno, quando já não é mais possível. Não há mais casa para onde voltar. Lançado no ano em que Vidas secas completou 70 anos, seria o romance de Ronaldo o atestado de que já não se pode mais falar de sertão, diante de todos os fetiches que vitimizaram a região?
“Pelo contrário. Ele é sobre novas possibilidades de falar do Sertão. É um olhar contemporâneo, com lentes diferentes daquelas por onde olharam os escritores que me antecederam. O Sertão para mim é a mera extensão das cidades, por mais que isso desagrade aos conservadores. Em 1997, num ensaio visionário sobre os meus contos, Alberto da Cunha Melo tinha chamado atenção para isso. Ele escreveu que as minhas personagens eram neuroticamente e complexamente urbanas. Alguém, depois dos versos proféticos de Fabião das Queimadas, precisava repetir que aquele sertão ‘já morreu, já se acabou e está fechada a questão’”.
“Temos de inventar linguagens novas, correr risco”, acredita Ronaldo, que voltará à demolição na sua próxima obra. Desta vez, um livro de contos – “Ele é terrível contra os homens, estou sendo ainda mais radical”. O autor tem outro romance em andamento, mas precisa de tempo para se livrar de Galileia, precisa se refugiar no universo fechado das histórias curtas, precisa de abrigo. “Galileia ainda está impregnado aqui dentro”, confessa o sertanejo Ronaldo.
Prêmio São Paulo de Literatura tem ganhadores
5/8/2009
Agência FAPESP – Galileia, de Ronaldo Correia de Brito, é o ganhador do Prêmio São Paulo de Literatura 2009, na categoria Melhor Livro do Ano de 2008. O anúncio foi feito pelo governo do Estado de São Paulo, por meio da Secretaria de Cultura, na segunda-feira (3/8), no Museu da Língua Portuguesa em São Paulo.
Na categoria Melhor Livro do Ano - Autor Estreante, o escolhido foi Altair Martins, por A Parede no Escuro. Os ganhadores das duas categorias receberam, cada um, R$ 200 mil.
O concurso teve 217 romances de 75 editoras e 13 autores independentes inscritos nesta edição. A primeira edição do Prêmio São Paulo de Literatura foi realizada no ano passado, com as escolhas de Cristovão Tezza, por O Filho Eterno, como Melhor Livro do Ano, e de Tatiana Salem Levy, com A Chave de Casa, como Melhor Livro de Autor Estreante.
O governador de São Paulo, José Serra, participou da premiação e antecipou o anúncio da realização da 3ª edição do evento. “Este é um prêmio que veio para ficar. Três anos [em 2010] será tempo suficiente para fixá-lo como um marco. Em 2008, tivemos 146 romances registrados. Este ano, 217. É um aumento significativo”, disse.
Ao comentar que “minha língua é minha pátria”, Serra parafraseou o poeta português Fernando Pessoa ao ressaltar que o prêmio não tem limites regionais. “[Ele] ultrapassa os limites territoriais do Brasil. Pelos vencedores, vocês podem ver que é um prêmio nacional. Ganharam um gaúcho [Altair] e um cearense [Ronaldo] que mora em Pernambuco”, completou.
Durante seu discurso, o governador destacou outros programas de fomento à literatura promovidos no Estado de São Paulo. Serra citou o Festival da Mantiqueira, em que os finalistas do Prêmio São Paulo de Literatura 2009 foram anunciados, o Viagem Literária, programa de incentivo à leitura que percorre o interior do Estado, e o projeto Biblioteca São Paulo, que será inaugurado em janeiro no Parque da Juventude e receberá investimentos de R$ 12 milhões. O governador salientou ainda a importância da Imprensa Oficial na publicação de livros que não têm apelo comercial.
O secretário de Cultura, João Sayad, também esteve no evento e enfatizou a dimensão do prêmio. “Queremos que seja um prêmio escandaloso para que chame atenção para os livros, para os autores e, principalmente, para a leitura”, afirmou.
Também participaram da entrega do Prêmio São Paulo de Literatura 2009 o secretário de Educação, Paulo Renato Souza, o secretário de Relações Institucionais, José Henrique Reis Lobo, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, e o coordenador da Unidade de Fomento e Difusão de Produção Cultural, André Sturm.
Os livros finalistas foram escolhidos após avaliação de júri formado pelos professores Ivan Marques e Marcos Moraes, pelos escritores Menalton Braff e Fernando Paixão, pelos livreiros Paula Fabrio e José Carlos Honório, pelos críticos literários Marcelo Pen e Josélia Aguiar, e pelos leitores Márcia de Grandi e Mario Vitor Santos.
Entre autores concorrentes estavam nomes consagrados da literatura como José Saramago, Milton Hatoum, Moacyr Scliar e João Gilberto Noll. A avaliação final foi feita por um segundo grupo de jurados, que chegou aos dois vencedores.
Autor de 'Galiléia' vence Prêmio São Paulo de Literatura
Ronaldo Correia de Brito, autor de Galiléia, recebeu, nesta segunda-feira (3), o prêmio da categoria Melhor Livro do Prêmio São Paulo de Literatura. A cerimônia de premiação aconteceu no Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo.
O autor recebeu R$ 200 mil, menos os impostos, pela obra que conta a história de três primos que deixam o interior para conhecer o mundo dos grandes centros e acabam vivendo experiências que marcam suas vidas.
"O que eu tinha de fazer, eu já tinha feito me dedicando ao livro. Minha alma estava serena", disse o cearense vencedor."Eu não esperava vencer o Prêmio, mas queria muito ser reconhecido por este trabalho. Foram sete anos de dedicação", completou.
A categoria de melhor autor estreante ficou com Altair Martins, com A Parede no Escuro. A obra fala sobre duas famílias que perdem repentinamente a figura paterna.
O autor Cristóvão Tezza, o crítico literário Luis Antonio Giron, a professora Walnice Nogueira Galvão, o livreiro Aldo Bocchini e o leitor Claudiney Ferreira formaram o júri que avaliou os dez candidatos a cada categoria.
O anúncio dos escritores premiados foi feito pelo Governador do Estado de São Paulo, José Serra, e pelo Secretário de Estado da Cultura, João Sayad.
O prêmio é oferecido pela Secretária de Cultura de São Paulo e pela Unidade de Fomento e Difusão de Produção Cultural.
http://diversao.terra.com.br/interna/0,,OI3906826-EI3615,00.html
Trecho do primeiro capítulo de 'Galiléia'
Soubemos notícias do avô Raimundo Caetano bem antes da travessia dos Inhamuns. A saúde dele agravou-se e a festa de aniversário poderá não acontecer.
Penso em voltar para o Recife, obedecendo a pressentimentos de desgraça, receios que me invadem em todas as reuniões da família. Davi e Ismael consultam-me com os olhos; temem que eu desista da viagem. Não dependem de mim para continuar, mas sou eu que intervenho nas disputas entre eles, desde quando tocávamos rebanhos de carneiros e feri o calcanhar, numa tarde como essa.
Tudo se assemelha ao passado, até os caminhos repetidos e o silêncio dos mortos, fantasmas que andaram como ando, ansioso e de humor deprimido.
Há algum tempo dirijo o carro sozinho. Os primos subiram na carroceria da camioneta, expondo-se ao sol e à poeira do final de tarde, num mês de dezembro com prenúncios de chuva. Tamanha beleza é pura armadilha. Preciso de lentes para abstrair o azul do céu, as nuvens de cinema épico.
O calor me enfada. Ele vem das pedras que afl oram por todos os lados, como planta rasteira. Nada lembra mais o silêncio do que a pedra, matéria-prima do sertão que percorremos em alta velocidade.
De que maneira o primo Ismael arranjou dinheiro para comprar uma camioneta? É pergunta que ainda não fizemos. Deixamos para mais tarde os acertos de contas, afinal, nos juntamos depois de uma longa ausência. Durante muito tempo fomos apenas notícia.
Observo as carnaúbas, esguias como o corpo do primo Davi, e revejo a tarde dolorosa, ele fugindo nu, coberto apenas por uma camisa branca, o sexo à mostra, o sangue escorrendo entre as pernas. Sinto a náusea de sempre, o pavor de não compreender nada, mesmo depois de anos de psicanálise. Desejo voltar, acelero o carro, recuo na poltrona. Retorno mais uma vez ao passado, à tarde em que tudo aconteceu. Os olhos congelados nas imagens de uma câmera fixa, um trailer de quinze ou vinte minutos. Vou sair no meio do filme. Não quero prosseguir.
Ronaldo Correia de Brito nasceu em Saboeiro no Ceará e mora em Recife. É médico formado pela Universidade Federal de Pernambuco. Desenvolveu pesquisas e escreveu diversos textos sobre literatura oral e brinquedos de tradição popular, além de ter sido escritor residente da Universidade da Califórnia, em Berkeley, no ano de 2007. Escreveu os livros de contos As Noites e os Dias (1997), editado pela Bagaço, Faca (2003), Livro dos Homens (2005), e a novela infanto-juvenil O Pavão Misterioso (2004), todos publicados pela Cosac Naify. Dramaturgo, é autor das peças Baile do Menino Deus, Bandeira de São João, Arlequim, e o romance Galiléia pela Alfaguara. Escreveu durante sete anos para a coluna Entremez, da revista Continente Multicultural, e atualmente assina uma coluna semanal na revista Terra Magazine.
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